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Ana e os Bonecos - Tradutor

Ana e os Bonecos - Pesquisa

08/05/2008

Ana e os Bonecos - Entrevista Álvaro Apocalypse - Parte I




Álvaro Apocalypse - Parte 1

Fotos: Álvaro entre bonecos, ilustração de Àlvaro Apocalypse e ele manipulando.

José Carlos Santana/ O Estado de São Paulo - A sua infância em Ouro Fino foi mesmo tão boa assim?Álvaro Apocalypse - Olha, foi uma infância de menino de interior, gostosa demais e cheia de boas recordações. Brinquei tanto que os meus amigos dizem que até hoje não parei, por causa dos bonecos que eu faço. A gente nadava em ribeirão, pescava, subia em árvores, armava arapuca, roubava fruta no quintal dos vizinhos, fazia os diabos. E ainda tinha as brincadeiras dentro de casa, nos dias de chuva, que era quando eu mais desenhava.

Estado - Então, você já desenhava bem naquele tempo?Apocalypse - Eu desenho desde pequeno, sempre desenhei. E eu devo muito à minha professora no grupo escolar, d. Donica, que percebeu isso e começou a me dar tarefas, a me pedir para reproduzir plantas no quadro, para fazer cartazes, coisas de escola. Até que fui para Campinas fazer o científico, porque em Ouro Fino só tinha a Escola de Comércio, e depois viemos para Belo Horizonte.

Estado - Em Belo Horizonte, você foi direto para uma escola de arte?Apocalypse - Não, primeiro eu fui concluir o científico no Colégio Municipal, mas continuei a desenhar em casa. Até que, um dia, consegui que me aceitassem no Salão da Prefeitura e ganhei menção honrosa. Lá eu conheci Gavino Mudado, Wilde Lacerda, Yara Tupinambá (todos artistas) e foram eles que me convidaram para freqüentar a Escolinha Guignard.

Estado - O Guignard ainda estáva lá, nesse tempo?Apocalypse - Estava sim, mas já naquela fase difícil. Eu chegava à escola muito cedo e encontrava tudo arrumadinho, as salas varridas, as jarras com flores e os nossos desenhos com comentários dele ao pé. Era muito engraçado porque ele fazia as observações sobre o desenho, dava sugestões, recomendava isso e aquilo, assinava embaixo Ticiano, Da Vinci, Botticelli... e ia embora.

Estado - Então, você não teve aulas com ele?Apocalypse - Aula mesmo eu não tive não. Acontece que Guignard, mesmo ausente, era uma inspiração para todos nós, pelo fato de ser um homem simples, ter uma enorme capacidade de trabalho e pelo artista maravilhoso que sempre foi. Guignard era uma figura especial, contaminava todo mundo com o seu jeito de ser e com a arte que fazia.

Estado - Você só desenhava ou também pintava?Apocalypse - Na época, eu não me interessava nem um pouco pela pintura. Eu fazia sérias restrições à pintura, porque procurava uma arte enxuta, pura, que hoje chamaria de arte desmaterializada. Eu até comentei isso com o Aldemir Martins, recentemente. Eu, o Jarbas Juarez e a Vilma Martins esperávamos pelos desenhos dele com a maior ansiedade, por causa da técnica, daquele cruzamento de linhas, da precisão do traço, que nada tinha com os borrões dos pintores. O pessoal da pintura fazia um quadro a cada manhã, imagine!

Estado - E você vivia de quê? Do desenho?Apocalypse - Desenho não dava dinheiro, não. Ninguém comprava desenho, nessa época. O que aconteceu foi que logo comecei a ilustrar o suplemento literário do Diário Católico, a revista Alterosa, a capa da seção feminina do Estado de Minas e era com esses trabalhos que eu ganhava dinheiro.

Estado - E temática dos seus desenhos, por que tão diferente?Apocalypse - Essa é outra história interessante. Na época, os outros alunos da Guignard freqüentavam bons clubes, o Iate, o Automóvel Clube, e eu, embora tivesse o mesmo nível social deles, convivia com outro tipo de gente. No Colégio Municipal, onde fui estudar, não tinha curso científico de manhã e acabei na turma da noite. Como os alunos da noite eram militares, alfaiates, mecânicos, tinha muito operário, eu ia com eles para bares e festas de bairros afastados, que nada tinham a ver com minha turma. Eu conheci uma outra Belo Horizonte. Por isso é que as primeiras séries de desenhos meus têm como tema a boemia pesada, homens de bar, mulheres de gafieira.

Estado - Você parece ser um grande observador de indumentárias...Apocalypse - Eu sempre fui fascinado pelo desenvolvimento da vestimenta, pelas origens do paletó e dos seus botões, por exemplo, e essa curiosidade eu trago comigo até hoje. Desenhar figurinos, fazer pesquisas sobre vestimentas, de tudo isso eu gosto muito.

Estado - De aluno da Escolinha do Parque, mesmo ainda um rapazola, você foi ser professor do curso de Belas-Artes da Escola de Arquitetura da UFMG. Subiu rápido, não?Apocalypse - É, eu tinha só 22 anos. Foi o Gerson Lodde, ex-aluno de Guignard, um grande arquiteto e um excelente aquarelista, quem me levou para dar aulas lá, em 1959. Ele diz que me ouviu falando e ficou com a impressão de que eu seria um bom professor. Só fui fazer exames de suficiência anos depois. Hoje, estou aposentado, mas continuo trabalhando na universidade como orientador de mestrado.

Estado - E a advocacia?Apocalypse - O negócio é o seguinte: eu não sabia o que fazer da minha vida e fui fazer o teste vocacional. Era lá no Serviço de Orientação Profissional do Instituto de Educação e demorava meses para responder tudo e para obter os resultados. No fim, deu que eu deveria ser um artista plástico, em primeiro lugar, e poderia dedicar-me também à literatura. Como não tinha artes plásticas na universidade e eu não queria cursar Letras, porque não me interessava ser professor de línguas, fui fazer Direito. Era um caminho conciliatório, já que eu gostava muito de um debate, de uma controvérsia.

Estado - E conseguiu levar até o fim ou trocou o Direito pela arte?Apocalypse - Não, levei o curso até o fim. E acho que fiz uma grande coisa porque na minha turma só tinha gente brilhante. Tinha o Sepúlveda Pertence, o Maurício Correia, o Carlos Eloy, gente do mais alto gabarito, e dessa convivência tirei bom proveito. Foi uma experiência muito rica, enriquecedora.

Estado - Entre o pessoal das artes plásticas, você é apontado como um intelectual de verdade, o que conhece mais da literatura brasileira e estrangeira. A leitura era um hábito desde criança ou começou na Escola de Direito?Apocalypse - Eu já lia muito, desde menino, mas tive a sorte de ser orientado pelo Silas Ferreira (contista mineiro), que tinha uma grande biblioteca e fez uma lista dos livros que eu deveria ler para começar a entender a literatura. E, a partir daí, eu fui lendo tudo o que era considerado de maior importância, dentro de uma programação. Eu costumo brincar dizendo que eu li até o Brejo das Almas, o primeiro livro de Drummond, tão falado e nunca lido.

Estado - Antes de entrar na sua fase teatral, eu queria que você me respondesse o seguinte: o Álvaro Apocalypse, no fundo da alma, é o quê? É desenhista, muralista, ilustrador, escultor, cenógrafo, figurinista, dramaturgo, poeta, diretor de teatro ou advogado?Apocalypse - Eu mesmo não sei o que sou e não tenho certeza de nada. Tem dia que eu acordo achando que estou fazendo tudo certo e o caminho é mesmo o que escolhi. Outros dias, abro os olhos e acho que está tudo errado, que me perdi. Não sou nada e sou um punhado de coisas. O que eu sei é que tenho muita vontade de viver e de ver o espetáculo da vida, que é uma coisa extraordinária.

Estado - O que diferencia o Giramundo do teatro de marionetes tradicional?Apocalypse - Nós temos uma linha que é o estudo da linguagem do teatro de bonecos. Vamos das técnicas tradicionais, que são a luva, a vara, o fio, o marote, os mais conhecidos, e avançamos com técnicas de manipulação que nós mesmos inventamos, com base em muita pesquisa e experimentação. Nossa intenção é ir, na medida do possível, além do teatro mais comum. É pôr a imaginação para trabalhar e explorar todas as possibilidades, que são infinitas.

Estado - É esse o segredo do sucesso aqui e do prestígio que o grupo ganhou fora do Brasil?Apocalypse - Eu acho que é isso e também a seriedade com que fazemos o nosso trabalho. O que a gente faz é pesquisar muito, experimentar, testar, aproveitar idéias de atores e compositores, num trabalho integrado e de muita busca para manter o teatro de bonecos vivo... Vivo e renovado.

Estado - Esse seu amor pelo teatro vem da infância? Está em Ouro Fino a origem do Giramundo?Apocalypse - Eu acho que vem de Ouro Fino sim e vou contar por quê. Lá, nós fazíamos uma câmera com caixote, lâmpada cheia d'água e conseguíamos projetar ilustrações de gibis que eu decalcava no papel-manteiga para fazer cinema. Já era uma idéia de espetáculo. Quando chegava um circo à cidade, a gente ia ver e imitava em casa tudo o que os artistas faziam, cobrando ingresso dos meninos da rua. Mas acho que o que mais se aproxima do que faço hoje é uma brincadeira que a gente chamava de hominho, que brincávamos no tempo de chuva.

Estado - Hominho, de homem pequeno?Apocalypse - Isso mesmo. Naquela época, não tinha televisão e, quando chovia, era uma tristeza, porque ninguém podia sair de casa. E aí nós inventamos essa brincadeira, que era feita sobre a mesa de pingue-pongue. Nós reproduzíamos em papelão as fachadas das casas de uma rua, recortávamos bonecos de papel inspirados nos personagens mais conhecidos da cidade e fazíamos uma dramatização, comprando, vendendo coisas, conversando, repetindo as cenas e os diálogos que a gente via na cidade. Tinha tudo quanto é tipo.

Estado - Há outros artistas na família?Apocalypse - Meus irmãos, meus primos, eles todos faziam maravilhas com papel. E até meu pai, que era médico, desenhava bem. Um dos meus irmãos, o Francisco, conseguia recortar e montar figuras que faziam gestos, que tiravam o revólver do coldre e caminhavam como um mocinho. Era extraordinário o que ele fazia. Os bonecos tinham casaco, tinham capa de chuva, havia cavalos, vacas, carruagens e até um Ford bigode.

Jornal: O Estado de São Paulo
Sábado, 20 de junho de 1998
Pág. D-10 e D-11
Caderno: Caderno 2
Entrevista concedida para José Carlos Santana.
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