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"Belas e lúdicas as ilustrações prendem a atenção e despertam a fantasia que une adultos e crianças." (Bons Fluídos, fev. 2009)




* Acima, lápis de cor e aquarela sobre canson. Analu Alves - 05/2010.



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*Lápis de cor sobre Canson. Início - Festa Junina; Links - Congado; Técnica - Festa do Divino; Mamulengo; Fotos - Bois Caprichoso e Garantido; Agenda - Procissão do Fogaréu.



Ana e os Bonecos - Tradutor

Ana e os Bonecos - Pesquisa

08/05/2008

Ana e os Bonecos - Entrevista Àlvaro Apocalypse - Parte II






Álvaro Apocalypse - Parte 2
*Fotos: Álvaro estudando, cartazes Giramundo e personagem Cobra Norato.


José Carlos Santana/ O Estado de São Paulo - E vocês, em Ouro Fino, já conheciam o teatro de marionetes?Apocalypse - Não, não, nenhum de nós tínha visto nada disso. Eu só vim a ver teatro de marionetes em Belo Horizonte, no ano em que cheguei aqui, em 1953. Um grupo de fora, o Piccoli, estava apresentando-se na Feira de Amostras e nós fomos ver.



Estado - Daí veio a idéia de criar o Giramundo?Apocalypse - Não, o Giramundo veio bem depois. Eu tinha um primo, Mário Lúcio Brandão, que se interessava muito por cinema e eu acabei por aproximar-me do pessoal que fazia filmes. O primeiro desenho animado para o cinema feito em Belo Horizonte foi eu que fiz. Foi no lançamento do Hospital Inconfidência e o filme foi feito para cinema mesmo, em 35 mm, sonoro e tudo. Aí eu passei a fazer desenho animado para a televisão, para a TV Itacolomi. Vinhetinhas. Mas ficava muito caro e tivemos de parar. Depois eu tentei fazer animação com bonecos, como se fazia na Europa, mas também tive de desistir porque o rapaz que me ajudava, um engenheiro, não quis continuar. Aí eu pensei: se não posso fazer animação, faço um teatro de bonecos. Mas, por mais que eu tentasse, na Escola de Belas-Artes, não conseguia fazer, porque o pessoal começava entusiasmado e depois me deixava sozinho.

Estado - Você ganhou um prêmio de desenho, nessa ocasião, não ganhou?Apocalypse - É, ganhei o Prêmio de Viagem da Aliança Francesa e fui para a França com minha mulher, a Terezinha, que tinha ganho uma bolsa de estudos de prêmio pelo 1º lugar no Salão Universitário. Isso foi em 1968. Lá a gente passou a freqüentar teatros de marionetes, a observar como eles trabalhavam e voltamos para o Brasil com algumas idéias. Mas foi no Festival de Charleville-Mézières, em 1972, que percebemos a importância do teatro de bonecos e começamos a trabalhar com outra visão. Passamos a estudar mais, a pesquisar, a chamar músicos, compositores e cantores para os nossos espetáculos. Antes, nós fazíamos tudo sozinhos. Eu, a Terezinha e a Madu montamos o primeiro espetáculo.

Estado - O que vocês montaram?Apocalypse - A Bela Adormecida, de Charles Perrault, mas numa versão bem mineira. Nossa idéia era mostrar o espetáculo só para os amigos e os filhos dos nossos amigos, em casa, mas o Júlio Varella viu e nos convenceu a ir para o Teatro Marília, que ele dirigia. Como deu certo, a recepção foi muito boa, a gente continuou e está nisso até hoje.

Estado - E por que Giramundo Teatro de Bonecos?Apocalypse - A gente procurava um nome de boi, um nome de animal, bem brasileiro. Já estávamos dispostos a adotar Mimoso quando alguém sugeriu Giramundo e dissemos: é esse aí!

Estado - Os textos são de vocês, sempre?Apocalypse - Nós mesmos escrevemos tudo ou adaptamos. E acontecem coisas interessantes. Por exemplo: o último espetáculo que montamos, O Diário, começou como uma sátira aos centros culturais, porque no Brasil não pode aparecer um casarão desocupado que eles vão lá e transformam em centro cultural. Mas fomos convidados a levá-lo para a França e achamos que ninguém iria entender nada da narrativa. Aí, resolvemos incluir no espetáculo trechos de O Diário de um Louco, de Gogol, e deu certo. Veja você, fomos buscar num louco uma narrativa racional.

Estado - Como é que nasce o espetáculo?Apocalypse - Depende. Pode surgir das nossas pesquisas ou até numa fila de banco, quando a gente vê uma cena que parece pronta para o palco. Mas nós também aceitamos encomendas, o que ocorre com bastante freqüencia. Por exemplo: nos 150 anos do nascimento de Carlos Gomes, pediram-nos uma peça e nós fizemos O Guarani. No aniversário da Independência do Brasil, em 1992, criamos o Tiradentes. No bicentenário da morte de Mozart, fizemos A Flauta Mágica, que apresentamos no Teatro Municipal de São Paulo. Foi assim também com o Ratton (Helvécio), que me encomendou os bonecos para o filme dele, A Dança dos Bonecos.

Estado - E o Cobra Norato, que foi o maior sucesso de vocês, surgiu como?Apocalypse - Cobra Norato foi o nosso maior sucesso, mas o primeiro grande espetáculo que fizemos, saindo do formato teatro de bonecos e entrando no formato ópera, foi El Retablo de Maese Pedro, com uma orquestra de 50 músicos na frente, maestro, cantores, que apresentamos primeiro no Festival de Inverno de Ouro Preto, depois no Municipal de São Paulo e, em seguida, no Rio, onde inauguramos o Teatro do Sesc Tijuca. Houve dias em que fizemos quatro apresentações, com gente esperando na fila. Foi aí que o Giramundo finalmente virou notícia, foi parar até no Fantástico.

Estado - É o mal de quem faz teatro ou é artista fora do eixo Rio-São Paulo.Apocalypse - Exatamente. Imagine que já nos tínhamos apresentado pelo Brasil todo e no festival de Charleville-Mézières, na França, com o maior sucesso, e só então é que fomos descobertos pela crítica, pela imprensa do Rio e de São Paulo. O Yan Michalski fez um belo trabalho a nosso respeito, na época, e daí subimos para um outro patamar. Começamos a ganhar credibilidade. No fim da crítica que escreveu, o Yan lamentava que uma montagem tão rica como a que fizemos tivesse como base um texto estrangeiro e nós começamos a pensar, então, em fazer alguma coisa bem brasileira.

Estado - Aí apareceu Bopp!Apocalypse - Exato. A idéia foi da Madu, que sugeriu a peça numa das nossas reuniões em Lagoa Santa, dizendo que não havia nada mais brasileiro que Raul Bopp. Eu não o conhecia, nunca o tinha lido e saí pelas livrarias de Belo Horizonte procurando o livro. Acabei encontrando um exemplar. Mas eu confesso que li e não entendi nada do poema e tive de recorrer a amigos envolvidos com literatura para tentar compreender sua estrutura, as razões dos mitos. Até que a coisa foi se abrindo, fomos felizes no trabalho de junção das três raças - indígena, africana e européia - e chegamos à forma que o espetáculo tomou.

Estado - Cobra Norato ganhou o Molière, o Mambembe, o Prêmio da Crítica de São Paulo... Mudou a história do Giramundo.Apocalypse - Diria que foi um momento de rara felicidade para todo o grupo, porque nós estávamos inspirados, os atores eu. Nunca os vi fazer algo num nível tão bom, os cantores estavam excelentes e o Alexandrino do Carmo e a Amelinha, ambos fora de série. A gravação foi notável e a música do Lindembergue Cardoso, antológica. Foi, realmente, um trabalho que nos deu um prazer enorme e nos abriu novos caminhos. Meu medo é o grupo ficar conhecido só por Cobra Norato, porque é o de que a imprensa mais se lembra e o que o público quer ver.

Estado - Vai ser difícil romper essa ligação, não?Apocalypse - É verdade! E com isso nós ganhamos maior credibilidade, uma publicidade muito grande e convites para apresentações em vários países da Europa, nos Estados Unidos, na Argentina. Mas o melhor de tudo, eu acho, é que o pessoal daqui, pelo menos quem foi ver nosso espetáculo, começou a perceber que teatro de bonecos não precisa ser, necessariamente, ingênuo, infantil, limitado nas suas formas de expressão.

Estado - E na Europa, o teatro de bonecos ainda tem a importância que tinha no passado?Apocalypse - Tem e é visto com o maior respeito. O ressurgimento começou nos anos 50, sobretudo nos países do Leste, primeiro como instrumento pedagógico e, depois, servindo a objetivos políticos. Hoje, tem teatro próprio, elenco próprio, suas estrelas, como na Polônia e na antiga Iugoslávia, e uma atividade extraordinária na Rússia, onde há 12 escolas de nível superior. A diferença é que lá eles permanecem mais ou menos fixos em certos gêneros e nós não. A gente é brasileiro e quer ir em frente, conhecer mais, arriscar mais. Nós já fizemos muita coisa arriscada.

Estado - O que, por exemplo?Apocalypse - O Diário, nosso último espetáculo, é um bom exemplo. A primeira versão não tinha nada de Gogol. Eram simplesmente loucuras tiradas da nossa cabeça, que estavam à espera de uma oportunidade para virar teatro. A gente fazia uma crítica bem-humorada da psicanálise e falava da nossa mania, no Brasil, de transformar todo casarão abandonado em centro cultural. Quando veio o convite para participar de um festival na França é que resolvemos mudar o espetáculo, introduzindo a narrativa de O Diário de um Louco dentro de um texto que já existia, para que o público lá fora pudesse entender. E deu certo.

Estado - Esse desenho que está aí na sua prancheta é para algum espetáculo novo?Apocalypse - Esse é um cachorro que estou criando para um espetáculo que nunca fizemos igual e nunca vimos nada igual, no mundo. São bonecos em forma de brinquedo, pequenas engenhocas para ser empurradas como se fossem enceradeiras. Os engenhos produzirão os movimentos e limitarão a participação dos manipulares. O pessoal aqui da oficina adora essas coisas.

Estado - Vocês fazem tudo aqui? Do texto ao trabalho de engenharia?Apocalypse - Fazemos tudo. Sempre digo que somos uma espécie de vanguarda ao contrário, aqui na universidade, uma reserva de transmissão de conhecimentos que a universidade abandonou faz muito tempo. Eu estou convencido, depois dessa experiência de quase 30 anos no Giramundo, de que a escola seria bem melhor e mais satisfatória se as relações entre mestres e alunos fossem como as que temos aqui.

Estado - O Giramundo é uma escola? Você recebe estudantes de teatro aqui?Apocalypse - Não, isto não é uma escola, mas nós admitimos estagiários e eles participam de todos os passos da criação. Temos aqui uma garota que veio de São Luís. Ela está fazendo o trabalho dela e, ao mesmo tempo, vendo como é que planejamos o nosso, como é que nos organizamos e preparamos uma viagem, como se faz uma gravação, como se corrige um texto e se produz a arte gráfica. Participa de tudo.

Estado - Se não faltariam alunos, por que não faz uma escola?Apocalypse - Olha, a gente até já pensou nisso, mas não dá, porque senão o grupo se institucionaliza e paralisa a criação. Ela poderia mudar os nossos objetivos, por necessidade. Eu sou um dos fundadores da Escola de Belas-Artes, na universidade, e me lembro dos nossos ideais e vejo no que deu a escola. Eu sempre digo: nós nos `universitarisamos' e isso não é bom para a criação. Sabe como é, eles acham que a pesquisa tem um tempo para ser concluída e isso é um absurdo. Nós temos pesquisas aqui que já duram dez anos e o trabalho continua.

Estado - No Giramundo, você conseguiu muitas vezes um casamento quase perfeito entre texto e plástica...Apocalypse - No teatro que nós fazemos, a ênfase é muito grande no visual, porque são outras formas de transmitir a emoção, de criticar, de sensibilizar as pessoas. E no teatro, em geral, a primeira grande preocupação é o texto. Nós partimos da imagem, que não se sabe de onde vem, e evoluímos combinando tudo - o texto, a música, o movimento... Alguém, não me lembro mais quem foi, disse algo que eu acho perfeito: no teatro se representa, no teatro de bonecos se é. Você é João e faz no palco o rei Salomão. Nós não, nós colocamos no palco o rei Salomão, não existe o João.

Estado - Vocês estão construindo uma sede, há anos. Quando pretendem mudar-se?Apocalypse - O negócio é o seguinte: este local onde estamos era um depósito para o cimento que seria utilizado na construção dos prédios da universidade. Nós viemos para cá, os estudantes de arte, porque a Escola de Belas-Artes estava crescendo demais e foi expulsa da Escola de Arquitetura, numa greve nacional organizada pela UNE. E foi ótimo. Quando a escola foi transferida para o prédio definitivo, isto aqui ficou vazio e a universidade o cedeu para o Giramundo. Há uns dez anos, a gente decidiu construir uma sede no bairro da Floresta, com nossos recursos, onde teremos um auditório, um espaço para ensaios e exposição, um barzinho na parte de baixo... Mas o dinheiro acabou.

Estado - Eu soube que você está triste porque o Giramundo está sem verba para levar adiante suas pesquisas e montar seus espetáculos. É verdade?Apocalypse - É, eu estou ficando cansado. O ano passado para nós foi glorioso. Tivemos patrocínio da Petrobrás, da Comunidade Solidária, da Telemig, do Banco Crédito Real e pudemos trabalhar sem preocupação. Tanto que no nosso cartão de Natal nós dissemos que 1997 foi "um ano muito louco" e desejávamos a todos um 1998 "mais doido ainda". A coisa deu errado. Do fim do ano para cá nada acontece, ninguém decide nada e não sabemos de onde vamos tirar dinheiro. O que nos tem sustentado são as apresentações. Às vezes, fazemos duas por dia. E isso me deixa um pouco desanimado, porque é difícil trabalhar nessas condições. Mas eu sou um otimista e tenho certeza de que as coisas vão melhorar. FIM.


Jornal: O Estado de São Paulo
Sábado, 20 de junho de 1998
Pág. D-10 e D-11
Caderno: Caderno 2
Entrevista concedida para José Carlos Santana.
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